Arquivo de sistematização de conteúdos
Bibliografia da aula:
Leitura obrigatória:
PORTER, Andrew. O imperialismo europeu (1860-1914). Lisboa: Edições 70, 2011, pp. 85-91; 181-192 (“Cronologia”; “Expansão e império”)
Leitura complementar:
HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios - 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998, pp. 87-124 ("A era dos impérios")
SAID, Edward. Cultura e imperialismo. São Paulo: Cia. das Letras, 2011, pp. 34-116 (“Territórios sobrepostos, histórias entrelaçadas”)
WOLFGANG, Döpcke; “A realização da hegemonia europeia no mundo: o novo imperialismo”; in: SARAIVA, José Flávio Sombra (org.). História das Relações Internacionais Contemporâneas: da sociedade internacional do século XIX à era da globalização. São Paulo: Saraiva, 2008, pp. 98-111.
Contribuições do docente ao tema:
Textos:
ZAGNI, Rodrigo Medina. Identidades em guerra: imperialismo e cultura nas relações entre Estados Unidos e América Latina durante a Segunda Guerra Mundial (os casos de Brasil, Argentina e México). Curitiba: CRV, 2015, pp. 66-123 (“O conceito de imperialismo aplicado às relações entre EUA e América Latina”)
ZAGNI, Rodrigo Medina; “Imperialismo: o debate clássico nos marcos de distintos marxismos”; Anais do 38º Encontro Anual da ANPOCS - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – ISSN 2177-3092 – Caxambú, out. 2014.
ZAGNI, Rodrigo Medina; “O momento histórico do imperialismo: a antessala de uma era de catástrofes”; Revista Acadêmica Eletrônica Sumaré. Faculdade Sumaré. ISSN: 2175-9227. São Paulo, Vol. 10, 2º sem. 2013.
Vídeos:
Aula “Imperialismo e História das Relações Internacionais“, Rodrigo Medina Zagni, Curso de Extensão "Imperialismo, fase superior do capitalismo – 100 anos da obra", Escola Paulista de Política, Economia e Negócios – EPPEN, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, Osasco/ SP, dezembro de 2016
Materiais complementares:
Vídeos:
Conferência: “Lenin, o imperialismo e as guerras”, Domenico Losurdo, lançamento do livro “A luta de classes: uma história política e filosófica”, Auditório da Sede nacional do PCdoB, junho de 2015.
Aula: “Imperialismo: história e teorias”, Virgínia Fontes, Curso “Capitalismo, imperialismo, dependência e crise”, Escola Latino-Americana de História e Política (ELAHP), 2020.
Debate: “Imperialismo e luta anticolonial: um debate entre Hannah Arendt e Franz Fanon”, Maria Ribeiro do Valle e Jones Manoel, Debate CEDEM, Centro de Documentação e Memória da UNESP, jan. 2021.
Proposta de atividade:
Leia atentamente os textos abaixo, de autoria de José William Vesentini e publicados na obra “Nova ordem, imperialismo e geopolítica global” (Campinas: Papirus, 2003, p. 30 e 39):
“[Imperialismo] ... o alto grau de concentração e centralização de capitais, dando origem aos trustes e cartéis; a fusão do capital bancário com o industrial, com o surgimento de um novo tipo de capital financeiro; a partilha e colonização da África e da Ásia pelas potências europeias; a exportação de capitais dos países centrais para a periferia do mundo capitalista, etc.”
“Nesses termos, libertação nacional ou luta por um princípio abstrato de autodeterminação das nações não é algo necessariamente progressista ou sequer parte do ideário básico do proletariado. Por esse motivo, ao se inserir uma teoria do imperialismo no corpo teórico do marxismo, dificilmente se consegue evitar uma ambiguidade, a coexistência conflitante de premissas antitéticas.”
As premissas supostamente autoexcludentes seriam os conceitos de “classes sociais” e “nação”, isso porque o caráter internacionalista do movimento socialista pautava-se na identidade de classe dos protagonistas políticos, enquanto a quadra histórica aberta na década de 1870 informava, com o ascenso das lutas anticoloniais, a centralidade das lutas nacionalistas nas realidades periféricas e semi-periféricas no sistema mundial. Ainda assim, é no âmago do marxismo que seriam elaboradas as mais amplamente aceitas teorias do imperialismo, desfazendo exatamente a aparente contradição entre “classe” e “nação”. Dessa tradição, destaca-se a teoria lenilista, não apenas aquela que se consagraria no contexto da Segunda Internacional, mas de toda a tradição marxista. Para que ela fosse erigida, por sua vez, elaborações de outros importantes autores foram fundamentais, dentre os quais destacam-se Rosa Luxemburgo e Nikolai Bukharin, bem como autores anteriores externos à tradição marxista, como Rudolf Hilferding e John Atkinson Hobson, até mesmo autores com os quais Lenin mesmo antagonizou, como Karl Kautsky.
Sabendo disso, escolha um dos autores abaixo e elabore uma síntese do que você compreendeu acerca do conceito de imperialismo que ele apresenta. Feito isso, após ter lido a postagem imediatamente anterior à sua, informe em que o autor que você escolheu concorda ou discorda com o conceito de imperialismo elaborado pelo autor que seu colega anterior escolheu.
John Atkinson Hobson
“It is a debasement of this genuine nationalism, by attempts to overflow its natural banks and absorb the near or distant territory of reluctant and unassimilable peoples, that marks de passage from nationalism to a spurious colonialismo on the one hand, Imperialismo on the other” (HOBSON, J. A. Imperialism: a study. New York: James Pott, 1902, p. 8)
“Como um dos precursores da teoria do subconsumo, retomada posteriormente por Rosa Luxemburgo, Hobson entendia que no capitalismo haveria uma tendência geral à perda de poder aquisitivo da classe trabalhadora, dada a sua paulatina pauperização, o que levaria ao subconsumo e à necessidade de direcionar a economia para o mercado externo, buscando vendas e investimentos, o que traria implicações imperialistas. Contudo, para o autor essa tendência imperialista, resultado da permanência de traços característicos de formações econômicas anteriores, poderia ser extirpada do desenvolvimento capitalista, por meio da correção exatamente do fenômeno do subconsumo.” (ZAGNI, Rodrigo Medina. Identidades em guerra: imperialismo e cultura nas relações entre Estados Unidos e América Latina durante a Segunda Guerra Mundial - os casos de Brasil, Argentina e México. Curitiba: CRV, 2015, p. 96)
Rudolf Hilferding
“The demand for an expansionist policy revolutionizes the whole world view of the bourgeoisie, which ceases to be peace-loving and humanitarian. The old free traders believed in free trade not only as the best economic policy but also as the beginning of an era of peace. Finance capital abandoned this beliefe long ago. It has no faith in the harmony of capitalist interests, and knows well that competition is becoming increasingly a political power struggle. The ideal of peace has lost its lustre, and in place of the idea of humanity there emerges a glorification of the greatness and power of the state… The ideal now is to secure for one’s own nation the domination of the world.” (HILFERDING, Rudolf. Finance capital: a study in the latest phase in capitalist development. London: Routledge & Kegan Paul, 1981, pp, 335)
“O capital financeiro desenvolveu-se com o desenvolvimento da sociedade anônima e alcança seu apogeu com a monopolização da indústria. O rendimento industrial ganha um caráter seguro e contínuo; com isso, a possibilidade do investimento de capital bancário na indústria ganha extensão cada vez maior (...) Com a formação dos cartéis e trustes, o capital financeiro alcança seu mais alto grau de poder, enquanto o capital comercial sofre sua mais profunda degradação. Completou-se um ciclo do capitalismo. No início do desenvolvimento capitalista, o capital monetário, como capital de usura e comercial, desempenha um papel importante tanto para a acumulação de capital como também na transformação da produção artesanal em capitalista. Mas aí tem início a resistência dos capitalistas ‘produtivos’; isto é, dos capitalistas que obtêm lucro, portanto dos industriais e comerciantes, contra os capitalistas do juro. O capital usurário fica subordinado ao capital industrial (...) O poder dos bancos cresce, eles se tornam fundadores e, finalmente, os soberanos da indústria, cujo lucro usurpam como capital financeiro (...). É evidente que com crescente concentração de propriedade, os proprietários do capital fictício, que dá o poder aos bancos, e os proprietários do capital que dá o poder às indústrias, são cada vez mais os mesmos grupos.” (HILFERDING, Rudolf. O capital financeiro. São Paulo: Abril Cultural, 1985, pp. 217-220)
“Portanto, o travejamento do imperialismo como política (e ideologia) de expansão territorial e domínio sobre povos-nações, repousa no fortalecimento (e captura, pelo capital financeiro) do Estado e na sua consequente ação político-militar-econômica de criar condições e garantias para a dominação e os lucros das grandes empresas no exterior, notadamente nas regiões ou países subjugados pelo expansionismo agressivo da política imperialista. O crescimento da geração de mais-valia é o alicerce fundamental nessa explicação, estando intimamente ligado à exportação de capitais e à ampliação do espaço econômico das potências capitalistas.” (VESENTINI, José William. Nova ordem, imperialismo e geopolítica global. Campinas: Papirus, 2003, p. 41).
“[Nos países menos desenvolvidos] o lucro do empresário é maior porque a força de trabalho é extraordinariamente barata, e sua menor qualidade é compensada por uma jornada de trabalho exorbitantemente longa (...) Se a exportação de capital nas suas formas desenvolvidas é realizada pelas esferas capitalistas cuja concentração é mais avançada, a exportação acelera retroativamente o poder e a acumulação dessas esferas. Portanto, a política do capital financeiro persegue três objetivos: primeiro, a criação do maior espaço econômico possível. Segundo, este é fechado pelas muralhas do protecionismo contra a concorrência estrangeira. Terceiro, converte-se assim o espaço econômico em área de exploração para as associações monopolistas nacionais.” (HILFERDING, Rudolf. O capital financeiro. São Paulo: Abril Cultural, 1985, pp. 296-306)
Karl Kautsky
“This policy of imperialism therefore cannot be continued much longer. Of course, if the present policy of imperialism were indispensable to the maintenance of the capitalist mode of production, then the factors I have referred to might make no last impression on the ruling class, and would not induce them to lend a different direction to their imperialist tendencies. But this change will be possible if imperialism, the striving of every great capitalist State to extend its own colonial empire in opposition to all the other empires of the same kind, represents only one among various modes of expansion of capitalism”. (KAUTSKY, Karl; “Ultra-imperialism”; Die Neue Zeit, September, 1914, p. 83)
“... O ultra-imperialismo eliminaria os conflitos desastrosos entre as potências capitalistas e, consequentemente, a corrida armamentista e as guerras, tanto as que visassem à repartição das colônias como as orientações à expansão territorial na própria Europa.” (PISTONE, Sergio; “Imperialismo”; in: BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gian Franco. Dicionário de Política. Brasília: UnB, 1995, p. 615).
“... O ponto de vista de Kautsky era o de que o imperialismo não seria uma fase necessária ou superior do desenvolvimento capitalista, mas uma de suas políticas; com isso, as políticas imperialistas poderiam ser substituídas por outras políticas. Especificamente, Kautsky defendia sua substituição pela política do ultra-imperialismo. Tratar-se-ia da contratualização de práticas de colaboração mútua entre as potências capitalistas no mercado mundial, o que seria coerente, para Kautsky, em razão do quão custoso resultava, em termos econômicos, o belicismo imperialista. O mesmo ímpeto deveria pautar as ações de inclusão de novos países no mercado mundial, bem como à disputa pela repartição de países considerados atrasados, fornecedores de matérias-primas, cuja exploração não cessaria por tratar-se de um elemento estrutural do sistema capitalista, a questão em tela seria a do modelo de desenvolvimento econômico que ali seria aplicado, portanto uma questão de ordem política. O remédio para a exploração capitalista de regiões pobres do planeta seria a implementação de reformas de caráter socialista, com o intuito de submeter o desenvolvimento econômico ao poder político e, com isso, garantir o interesse coletivo.” (ZAGNI, Rodrigo Medina. Identidades em guerra: imperialismo e cultura nas relações entre Estados Unidos e América Latina durante a Segunda Guerra Mundial - os casos de Brasil, Argentina e México. Curitiba: CRV, 2015, p. 100)
Rosa Luxemburgo
“... O militarismo é uma arma na concorrência dos países capitalistas, em luta pelo domínio dos territórios de civilização não-capitalista”. (LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital: estudo sobre a interpretação econômica do imperialismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1970, p. 399)
“O imperialismo é a expressão política do processo de acumulação do capital, em sua luta para conquistar as regiões não-capitalistas que não se encontram ainda dominadas. Geograficamente esse meio abrange, ainda hoje, a grande parte da terra. Mas comparado com o poder do capital já acumulado nos velhos países capitalistas, que luta para encontrar mercados para o seu excesso de produção e possibilidades de capitalização para sua mais-valia, comparando com a rapidez com que hoje se transformam em capitalistas territórios pertencentes a culturas pré-capitalistas (...) o campo revela-se pequeno para sua expansão. Assim, o imperialismo aumenta a sua agressividade contra o mundo não-capitalista, aguçando as contradições entre os países capitalistas em luta. Porém, quanto mais enérgica e violentamente procure o capitalismo a fusão total das civilizações capitalistas, tanto mais rapidamente irá minando o terreno da acumulação do capital. O imperialismo é tanto um método histórico para prolongar a existência do capital, como um meio seguro para objetivamente por um fim à sua existência (...) Quanto mais violentamente o militarismo extermine, tanto no exterior como no interior, as camadas não-capitalistas, e quanto piores as condições de vida dos trabalhadores, [ele] tornará possível a continuação da acumulação e necessária a rebelião da classe operária internacional contra a dominação imperialista.” (LUXEMBURGO, Rosa. A acumulação do capital: estudo sobre a interpretação econômica do imperialismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1970, p. 287).
“... A autora argumenta que a acumulação de capital, ou seja, a reprodução ampliada, não pode ocorrer indefinidamente num meio tipicamente capitalista (capitalismo "puro"), pois aí ela seria pouco a pouco inviabilizada pela tendência à subdemanda e à diminuição das taxas de lucro; a solução seria a expansão, o domínio ou expansão para áreas e relações não-capitalistas, incorporando-as no processo de acumulação. O imperialismo, a seu modo de ver, nada mais é que a expressão política desse imperativo econômico.” (VESENTINI, José William. Nova ordem, imperialismo e geopolítica global. Campinas: Papirus, 2003, p. 44)
Vladimir Lênin
“O imperialismo surgiu como o desenvolvimento e a continuação direta das características fundamentais do capitalismo. Porém o capitalismo se converteu em imperialismo somente ao alcançar um grau muito alto e definido de seu desenvolvimento, quando algumas de suas características fundamentais começaram a converter-se em seus contrários, quando tomaram corpo e se manifestaram com todos os traços de época de transição do capitalismo a um sistema econômico e social mais elevado.” (LÊNIN, V.I.U. El imperialismo, etapa superior del capitalismo. Buenos Aires: Anteo, 1971, pp. 108 e 109)
“A análise de Lênin da crise do imperialismo teve o mesmo poder e necessidade da análise de Maquiavel da crise da ordem medieval: a reação tinha que ser revolucionária. Esta é a alternativa implícita na obra de Lênin: ou revolução comunista mundial ou Império, e há uma profunda analogia entre essas duas opções”. (HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 434)
“Este estágio superior, ou finalista (dada a iminência da revolução socialista), Lênin demominou como sendo a etapa monopolista do capitalismo na qual o capital financeiro, constituído pelo capital bancário, já monopolizado por pequenos grupos, associado ao capital industrial também controlado por associações monopolistas, como força motriz passaria a determinar a repartição do mundo entre as principais economias capitalistas. Logo, o imperialismo seria constituído, em essência: pelo monopolismo característico desta etapa superior do desenvolvimento capitalista; pela fusão entre capital bancário e capital industrial, que dariam forma ao capital financeiro; pela convergência de capitais que seriam exportados para as economias centrais; pela repartição do mundo entre associações capitalistas internacionais; e, derradeiramente, pela repartição do mundo por parte dos países capitalistas desenvolvidos. Tratar-se-ia de uma etapa final em razão de esse processo culminar, inevitavelmente, na sublevação dos povos oprimidos e, com isso, na própria decomposição do capitalismo. Não se trata de uma confusão entre os conceitos de “classe” e de “nação”; a obra de Lênin consiste em um esforço sistemático para compreender a realidade e, frente a ela, atualizar as categorias do marxismo clássico, no que consiste seu maior mérito uma vez que o eixo da revolução passa a ser deslocado dos países capitalistas centrais para as economias periféricas, bem como seu sujeito passa a ser não mais a classe; mas a nação. A hipótese fundamental sustentada pela teoria lenilista sobre o imperialismo, ao contrário do que defendia Rosa Luxemburgo, não seria o empobrecimento do proletariado e, com isso, a necessidade de um consumidor extrínseco; mas na tendência, já identificada por Marx, à queda das taxas de lucro. Segundo a teoria marxista clássica, essa tendência geral para a queda das taxas de lucro seria resultado da crescente concorrência entre capitalistas numa mesma economia, impelidos pelas leis do mercado a vultosos investimentos em cada vez mais sofisticadas maquinarias a fim de tentarem vantagens concorrenciais sobre os demais. Como essas estratégias são comuns, logo essa maquinaria torna-se-ia obsoleta, sendo necessária constante renovação de suas tecnologias e investimentos cada vez mais vultosos, no que resultaria a diminuição do lucro dos capitalistas, ao passo do aumento dos níveis de salário em decorrência do ímpeto de se monopolizar também os trabalhadores. A longo prazo, tem-se a gradativa substituição do capital variável, ou seja, a força de trabalho, pelo capital constante, as máquinas. Para Marx, o resultado seria a própria restrição da fonte a partir da qual se obtem a mais-valia: o trabalho vivo. Com a tendência geral à mecanização da produção, imposta pela própria corrida concorrencial, não apenas restringir-se-ia a fonte de obtenção da mais valia como se acentuaria o processo de monopolização da produção, uma vez que poucos seriam os capitalistas capazes de acompanhar o compasso imposto pelas dinâmicas de desenvolvimento tecnológico, tomado como índice de vantagem concorrencial. O desenvolvimento capitalista, numa etapa mais avançada, mudaria a forma de mercado concorrencial para um mercado monopólico no qual milhares de trabalhadores e gigantescos parques de produção seriam controlados por pequenos grupos de capitalistas, quando não um só. Não apenas a produção, mas o acúmulo de poder econômico levaria esses monopólios a controlar o poder do Estado por meio de seu governo, determinando os rumos da própria política nacional de acordo com seus interesses. A tendência de os lucros obtidos no mercado interno desaparecerem faz com que os monopólios financeiros alocados nos Estados capitalistas desenvolvidos se lancem para a exploração do mercado mundial, entrando em conflito com outros grupos que buscam o mesmo objetivo. Nesta etapa do desenvolvimento capitalista, dada a organização da produção em nível mundial, a esfera de atuação política dos monopólios econômicos não pode limitar-se às fronteiras nacionais. Tenta-se, a partir daí, o controle de matérias-primas e do mercado mundial pelo capital financeiro, produto da fusão entre capital industrial e capital bancário, concentrando imenso vulto de capitais e exercendo enorme pressão sobre Estados nacionais. Como pequenos grupos disputam por vezes os mesmos recursos, o mundo passa a ser dividido entre diferentes esferas de influência entre distintos monopólios que, invariavelmente, entram em conflito. No mais das vezes, o conflito não é protagonizado diretamente pelos monopólios, mas pelos Estados sobre os quais exercem determinante influência. Uma vez concluída a divisão do mundo em diferentes áreas de influência, a guerra passa a ser inevitável, dada a disputa que passa a mover os monopólios/governos por matérias-primas e mercados, nesta nova fase escassos ou já sob posse de um ou outro monopólio.” (ZAGNI, Rodrigo Medina. Identidades em guerra: imperialismo e cultura nas relações entre Estados Unidos e América Latina durante a Segunda Guerra Mundial - os casos de Brasil, Argentina e México. Curitiba: CRV, 2015, pp. 106 a 108)
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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.