"Imortalizar, como atividade de homens mortais, só pode ser significativo se não houver garantia nenhuma de vida futura”
ARENDT, Hannah. Entre passado e futuro, 1961.
“Através da História os homens se tornam quase iguais à natureza, e unicamente os acontecimentos, feitos ou palavras que se ergueram por si mesmos ao contínuo desafio do universo natural eram os que chamaríamos de históricos.”
ARENDT, Hannah. Entre passado e futuro, 1961.
“Compreendei que se procede como procedo é porque me dirijo desde já aos que virão depois de vós, ou só me dirijo a vós na medida em que partilhais com os homens do futuro uma comum natureza humana. Não espereis de mim, portanto, belas histórias, de resto inverificáveis ou mesmo decididamente falsas.”
Tucídides – “A história da Guerra do Peloponeso”
“Quando Heródoto indica (semaínei), narra indiretamente as ações dos deuses por meio da narração direta das ações dos homens”.
NAGY, Gregory. “Pindar’s Homer: the lyric possession of an epic past”
“... Entre a fala épica e o discurso historiográfico, a Odisséia, que cantava a impossibilidade da epopeia, contava a descoberta fascinante e dolorosa da historicidade.”
HARTOG, François. “Os antigos: o passado e o presente”
“Continuarei, no desenrolar de minha narrativa, a percorrer igualmente as grandes e pequenas cidades dos homens; pois, aquelas que outrora eram grandes tornaram-se, na sua maioria, pequenas; e aquelas que eram grandes em meu tempo haviam antes sido pequenas; sabendo que a prosperidade humana não permanece nunca fixa em um mesmo ponto, farei memória igualmente de ambas.”
Heródoto – Histórias, 1, 5
"[Sobre Heródoto] "Como se o historiador esperasse retomar, prolongar o canto do aedo e ocupar o lugar deste último, ou um lugar análogo, em um mundo que mudara social e politicamente.”
HARTOG, Fraçois. "Os antigos: o passado e o presente"
“[Cena da Odisséia] O aedo canta as narrativas de Ulisses na presença do próprio, que escuta as narrativas de suas próprias ações: nasce a categoria “história”, primeira narrativização do acontecimento.
O que fora puro acontecimento torna-se agora ‘história’”
ARENDT, Hannah (La crise de la culture – 1972)
“Todas as manhãs, quando acordo de novo sob o manto do céu, sinto que para mim é o dia de Ano Novo.
É por isso que odeio estes Anos Novos que se caem como maturidades fixas, que transformam a vida e do espírito humano numa preocupação comercial, com o seu saldo final certinho, os seus montantes em dívida, o seu orçamento para a novagestão. Eles fazem-nos perder a continuidade da vida e do espírito. Tu acabas pensando seriamente que entre um ano e o próximo há uma divisão, que uma nova história está começando; tomas decisões, e arrependes-te da tua indecisão, etc. etc.. Este é o que de errado com datas em geral.
Dizem que a cronologia é a espinha dorsal da história; admito que sim. Mas também temos de aceitar que há quatro ou cinco datas fundamentais que qualquer boa pessoa conserva no seu cérebro, que têm desempenhado truques ruins na história. Também elas são "Ano Novo". O Ano Novo da história romana, ou da Idade Média, ou da idade moderna.
E eles se tornaram tão invasivos e fossilizados que às vezes damos por nós pensando que a vida em Itália começou em 752, e que 1490 ou 1492 são como montanhas que a humanidade saltou por cima, encontrando-se de repente num mundo movo, entrando numa nova vida. Então a data passa a ser um obstáculo, um parapeito que nos impede de ver que a história continua a se desenrolar ao longo das mesma linhas imutáveis fundamentais, sem rupturas bruscas, como quando no cinema o filme se rasga e há um intervalo de luz ofuscante.
É por isso que odeio o Ano Novo. Quero que todas as manhãs sejam um ano novo para mim. Todos os dias eu quero reconsiderar-me a mim mesmo, e todos os dias quero me renovar. Nenhum dia reservado para o descanso. Eu escolho os meus dias para mim, quando me sinto embriagado com a intensidade da vida e quero mergulhar na animalidade para retirar dela um novo vigor.
Não aos relógios-de-ponto espirituais. Eu gostaria que todas as horas da minha vida fossem novas, ainda que ligadas às anteriores. Não um dia comemorativo com os seus rituais coletivos obrigatórios, partilhados com desconhecidos que não me dizem nada. Porque os avôs dos nossos avôs, e assim por diante, comemoraram, nós também devemos sentir o desejo de comemorar. Isso é nauseante.”
GRAMSCI, Antonio. (1er janvier 1916 sur l’Avanti!, édition de Turin, rubrique « Sotto la Mole »)
“. . . Como talvez os historiadores queiram lembrar aos especuladores metafísicos do ‘Fim da História’, haverá um futuro. A única generalização cem por cento segura sobre a história é aquela que diz que enquanto houver raça humana haverá história”.
HOBSBAWM, Eric. Eric. Era dos Extremos: O breve século XX,1914-1991; São Paulo: Companhia das Letras,1995, p. 16.
“Você não precisa analisar para gostar de algo. Você entende uma poesia porque você leu, entendeu e ela entrou dentro de você. Acabou. Análise é outra coisa: é entender como foi construído. Aliás, a análise até incomoda um pouco porque tira toda a empatia. É fria,é uma dissecação. É como pegar um sapo, abrir e mostrar os órgãos. Você mata o sapo, e de fato a análise mata o texto porque o que você extraiu dele não corresponde àquilo que você sentiu. Mostra uma análise e vê se alguém se emociona com ela! Isso que fazia com que Drummond tivesse um ódio ao pensamento acadêmico. Quando você começa a analisar, entra no nível do conhecimento, do saber. É o preço da análise: destruir o objeto.”
TATIT, Luiz. Quanto mais você sabe analisar, menos você critica. Jornal do Campus. Escola de Comunicação e Artes – Universidade de São Paulo, 28/02/2005, p. 5, 4 col.
“Escrever é algo precioso demais, para que se use disso para ganhar a vida”.
Lucas Bocage
“. . . O equívoco dos contemporâneos é sempre mais vivo”.
SCHWARZ, Roberto. O pai de família e outros estudos, Coleção Clássicos Latino-Americanos, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, p. 61.
“A História não é uma velhinha benigna”.
SCHWARZ, Roberto. Op. cit. p. 92.
“O caminho que conduz à verdade é lento e árduo”.
MATHIEZ, Albert; citado por NICOLE, Paul. A Revolução Francesa. Colecção Saber. S/l: Publicações Europa-América, s/d, p. 6.
“E assim acontece com o nosso passado. Tentar recaptura-lo é um trabalho vão: todos os esforços de nosso intelecto se provarão ineficazes. O passado se esconde em algum lugar fora desse domínio, para além do alcance do intelecto, em algum objeto material (na sensação que aquele objeto nos traz) do qual não temos a mais vaga idéia. E depende do acaso nos depararmos ou não com esse objeto antes de morrermos”.
PROUST, Marcel. ‘A la recherche du temps perdu’
“O tempo deixa de ser sucessão e volta a ser o que foi e é, originalmente: um presente onde o passado e o futuro por fim se reconciliam”.
PAZ, Octavio. O labirinto da solidão e Post-scriptum. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984, p. 46.
“Em si mesmas as coisas não existem. Somente através de nós”.
Braque
“A flor é a verdadeira madureza. O fruto não é mais que a caótica casca do que já não pertence à planta orgânica”.
SCHLEIERMACHER. Leben Schleiermacher, 1a ed., 1870; Denkmale der inneren Entwicklung Schleiermacher, p. 118. Cf. Monologen, p. 417; citado por GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 352.
“Como as letras de uma palavra, a vida e a história têm sentido.”
GADAMER, Hans-Georg. Op. cit., p. 353.
“. . . No momento supremo em que alcança a essência de algo, você descobre o genuíno gosto da verdade.”
DALÍ, Salvador. The secret life of Salvador Dali. Londres: s/ed., 1968, p. 10.
“A sabedoria originária não é mais que a outra face da ‘ignorância originária’”.
GADAMER, Hans-Georg. Op. cit., p. 412.
“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.
“Pobre fato! Procuramos limita-lo, e reduz-se a uma interpretação jurídica, queiramos amplia-lo, e invade a universal eternidade. Que perigo não corremos, ao romper nossas barreiras tradicionais, que incerteza nos espreita, que incapacidade não nos paralisará, por excesso de ambição? O fato, o fato que nos era tão caro, no qual queríamos apoiar todas nossa verdade de eruditos... o fato nada mais é do que uma ampla abertura para o mundo, através da qual olhamos a condição humana....”
Mozaré (Trois essais sur historie et culture)
“O momento se cristaliza em memória”.
Lefebvré
“Todos os conceitos em que, do ponto de vista semiótico, se congregue todo um processo, esquivam-se à definição: só o que não tem história é definível.”
NIETSCHE, trad. Por HOLANDA, Sérgio Buarque de; citado por DIAS, Maria Odila Leite da Silva; prefácio à SEVCENKO, Nicolau. Orfeu estático na metrópole: São Paulo: Sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Companhia das Letras, s/d, p. XI.
“. . . Desde que o passado deixou de lançar sua luz sobre o futuro a mente do homem vagueia na escuridão”.
TOCQUEVILLE. Democracy in America, citado por ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2005, p. 112.
“Como o amor da justiça é a primeira qualidade de um juiz, também a primeira qualidade de um historiador é o amor e a procura da verdade das coisas passadas”.
MABILLON, Jean; citado por DOSSE, François. A História. Bauru: EDUSC, 2003, p. 34.
"Existe um liame dialético indestrutível entre ciência e emancipação, e, pois, igualmente entre emancipação e ciência, ao menos na sociedade de classes. As ciências sociais podem começar a desenvolver-se independentemente de qualquer projeto de emancipação. Mas, até aqui, somente o marxismo, unificando ciências sociais e projeto de emancipação, tem sido capaz de desenvolver uma ciência coerente, que põe radicalmente em questão todas as condições sociais desumanas, explicando suas origens, sua natureza profunda, sua evolução e as condições de seu declínio."
Ernest Mandel, "Emancipação, ciência e política em Karl Marx", 1983
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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.