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Reflexões sobre o capitalismo
Reflexões sobre o capitalismo

"[Nos países menos desenvolvidos] o lucro do empresário é maior porque a força de trabalho é extraordinariamente barata, e sua menor qualidade é compensada por uma jornada de trabalho exorbitantemente longa (...) Se a exportação de capital nas suas formas desenvolvidas é realizada pelas esferas capitalistas cuja concentração é mais avançada, a exportação acelera retroativamente o poder e a acumulação dessas esferas. Portanto, a política [imperialista] do capital financeiro persegue três objetivos: primeiro, a criação do maior espaço econômico possível. Segundo, este é fechado pelas muralhas do protecionismo contra a concorrência estrangeira. Terceiro, converte-se assim o espaço econômico em área de exploração para as associações monopolistas nacionais."

HILFERDING, Rudolf. "O capital financeiro"

 

"O capital financeiro desenvolveu-se com o desenvolvimento da sociedade anônima e alcança seu apogeu com a monopolização da indústria. O rendimento industrial ganha um caráter seguro e contínuo; com isso, a possibilidade do investimento de capital bancário na indústria ganha extensão cada vez maior (...) Com a formação dos cartéis e trustes, o capital financeiro alcança seu mais alto grau de poder, enquanto o capital comercial sofre sua mais profunda degradação. Completou-se um ciclo do capitalismo. No início do desenvolvimento capitalista, o capital monetário, como capital de usura e comercial, desempenha um papel importante tanto para a acumulação de capital como também na transformação da produção artesanal em capitalista. Mas aí tem início a resistência dos capitalistas ‘produtivos’; isto é, dos capitalistas que obtêm lucro, portanto dos industriais e comerciantes, contra os capitalistas do juro. O capital usurário fica subordinado ao capital industrial (...) O poder dos bancos cresce, eles se tornam fundadores e, finalmente, os soberanos da indústria, cujo lucro usurpam como capital financeiro (...) É evidente que com crescente concentração de propriedade, os proprietários do capital fictício, que dá o poder aos bancos, e os proprietários do capital que dá o poder às indústrias, são cada vez mais os mesmos grupos."

HILFERDING, Rudolf. "O capital financeiro"

 

“... A miséria dia a dia aumenta e o valor do trabalho manual (o salário) diminui. Os pobres odeiam cada vez mais os ricos e já recorrem a atos de violência. Os amigos da Humanidade estão alarmados com a miséria que por toda parte aumenta sem que seja possível remediá-la.

De fato, com os meios até agora utilizados, não foi nem será possível combater a miséria. Pelo contrário, esses meios só a tem feito aumentar. (...) Qual é, então, a causa da miséria? É a multiplicação rápida de novas forças produtivas, que a sociedade ainda não conseguiu ultimamente aplicar. (...)

O grande problema do nosso tempo [1917] não é, portanto, o da organização da produção e sim o de sua distribuição. A verdadeira causa do mal está no fato de não se saber inteligentemente utilizar as enormes riquezas criadas pela sociedade em consequência do progresso verificado no domínio científico-técnico. Disso resulta a miséria, a ignorância, a ociosidade, os crimes, os castigos draconianos e as sangrentas guerras, simples sintomas de grande moléstia que aflige a sociedade. Nenhum economista ou estadista, nenhum sábio ou legislador foi até agora capaz de compreender a situação e de remediá-la.”

BEER, Max. "História do Socialismo e das lutas sociais: da Antiguidade aos tempos modernos"

 

“O que os artesãos e operários de manufaturas temiam desde o séc. XVI surpreendeu-os bruscamente em meados do séc. XVIII: uma invasão de monstros de ferro que transformaram todas as tradições, paralisaram as mais hábeis mãos e espalharam em torno de si a riqueza e a indigência. O proletariado, que cada vez mais miserável se tornava, contemplava com espanto e estupor estes infatigáveis seres de múltiplos braços, que pareciam possuir forças inesgotáveis... E logo correu de boca em boca a palavra de ordem: ‘Destruamos esses monstros, antes que se tornem mais numerosos! Se eles se multiplicarem farão de nós seus escravos!”

BEER, Max. "História do Socialismo e das lutas sociais: da Antiguidade aos tempos modernos"

 

“As políticas fiscais e monetárias têm em vista impedir que a economia se ‘aqueça’ em demasia, o que na prática implica em manter uma generosa margem de sobreoferta de força de trabalho. Neste sentido, o desemprego não é um ‘mal’ mas um efeito funcional de políticas de estabilização exitosas (...)
A concorrência intensificada entre as empresas obriga-as a reduzir custos e, portanto, a aumentar ao máximo a produtividade do trabalho, o que implica reduzir também ao máximo a compra de força de trabalho. Os desempregados, que outrora eram denominados de exército industrial de reserva, desempenham o mesmo papel que as mercadorias que sobram nas prateleiras: eles evitam que os salários subam”.

SINGER, Paul. Globalização e desemprego: diagnóstico e alternativas. São Paulo: Contexto, 2002, p. 13.

 

“A palavra ‘mundial’ permite introduzir, com muito mais força do que o termo ‘global’, a idéia de que, se a economia se mundializou, seria importante construir depressa instituições políticas mundiais capazes de dominar seu movimento. Ora, isso é o que as forças que atualmente regem os destinos do mundo não querem de jeito nenhum. Entre os países do Grupo dos Sete – EUA, Canadá, Japão, França, Alemanha, Reino Unido, Itália -, os mais fortes julgam ainda poder cavalgar vantajosamente as forças econômicas e financeiras que a liberalização desencadeou, enquanto os demais estão paralisados ao tomarem consciência, por um lado, de sua perda de importância e, por outro, do caminho que vão ter que percorrer para ‘adaptar-se’.”

CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996, p. 23.

 

“Em matéria de administração de empresas, o termo [globalização] era utilizado tendo como destinatário os grandes grupos, para passar a seguinte mensagem: em todo lugar onde se possa gerar lucros, os obstáculos à expansão das atividades de vocês foram levantados, graças à liberalização e à desregulamentação; a telemática e os satélites de comunicações colocam em suas mãos formidáveis instrumentos de comunicação e controle; reorganizem-se e reformulem, em consequência, suas estratégias internacionais.”

CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996, p. 23.

 

“Se o dinheiro, segundo Augier, ‘vem ao mundo com manchas naturais de sangue sobre uma de suas faces’, então o capital nasce escorrendo por todos os poros sangue e sujeira da cabeça aos pés”.

MARX, Karl. O Capital. O processo de produção do capital. Tomo 2 (Capítulos XIII a XXV). São Paulo: Nova Cultural, 1985, p. 292.

 

“As expansões financeiras são ‘um sinal do outono’”.

Braudel; citado por BAINEY, Geoffrey; citado por ARRIGHI, Giovanni; SILVER, Beverly J. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora UFRJ, s/d, 40.

 

"[Segundo Rudolf Hilferding] Portanto, o travejamento do imperialismo como política (e ideologia) de expansão territorial e domínio sobre povos-nações, repousa no fortalecimento (e "captura", pelo capital financeiro) do Estado e na sua consequente ação político-militar-econômica de criar condições e garantias para a dominação e os lucros das grandes empresas no exterior, notadamente nas regiões ou países subjugados pelo expansionismo agressivo da política imperialista. O crescimento da geração de mais-valia é o alicerce fundamental nessa explicação, estando intimamente ligado à exportação de capitais e à ampliação do espaço econômico das potências capitalistas".

VESENTINI, José William. Nova ordem, imperialismoe geopolítica global. Campinas: Papirus, 2003, p. 41.

 

"[Nos países menos desenvolvidos] o lucro do empresário é maior porque a força de trabalho é extraordinariamente barata, e sua menor qualidade é compensada por uma jornada de trabalho exorbitantemente longa (...) Se a exportação de capital nas suas formas desenvolvidas é realizada pelas esferas capitalistas cuja concentração é mais avançada, a exportação acelera retroativamente o poder e a acumulação dessas esferas. Portanto, a política [imperialista] do capital financeiro persegue três objetivos: primeiro, a criação do maior espaço econômico possível. Segundo, este é fechado pelas muralhas do protecionismo contra a concorrência estrangeira. Terceiro, converte-se assim o espaço econômico em área de exploração para as associações monopolistas nacionais".

HILFERDING, Rudolf. O capital financeiro. São Paulo: Abril Cultural, 1985, pp. 217-220

 

"... [Rosa Luxemburgo] argumenta que a acumulação de capital, ou seja, a reprodução ampliada, não pode ocorrer indefinidamente num meio tipicamente capitalista (capitalismo "puro"), pois aí ela seria pouco a pouco inviabilizada pela tendência à subdemanda e à diminuição das taxas de lucro; a solução seria a expansão, o domínio ou expansão para áreas e relações não-capitalistas, incorporando-as no processo de acumulação. O imperialismo, a seu modo de ver, nada mais é que a expressão política desse imperativo econômico".

VESENTINI, José William. Nova ordem, imperialismoe geopolítica global. Campinas: Papirus, 2003, p. 44.

 

"O imperialismo é a expressão política do processo de acumulação do capital, em sua luta para conquistar as regiões não-capitalistas que não se encontram ainda dominadas. Geograficamente esse meio abrange, ainda hoje, a grande parte da terra. Mas comparado com o poder do capital já acumulado nos velhos países capitalistas, que luta para encontrar mercados para o seu excesso de produção e possibilidades de capitalização para sua mais-valia, comparando com a rapidez com que hoje se transformam em capitalistas territórios pertencentes a culturas pré-capitalistas (...) o campo revela-se pequeno para sua expansão. Assim, o imperialismo aumenta a sua agressividade contra o mundo não-capitalista, aguçando as contradições entre os países capitalistas em luta. Porém, quanto mais enérgica e violentamente procure o capitalismo a fusão total das civilizações capitalistas, tanto mais rapidamente irá minando o terreno da acumulação do capital. O imperialismo é tanto um método histórico para prolongar a existência do capital, como um meio seguro para objetivamente por um fim à sua existência (...) Quanto mais violentamente o militarismo extermine, tanto no exterior como no interior, as camadas não-capitalistas, e quanto piores as condições de vida dos trabalhadores, [ele] tornará possível a continuação da acumulação e necessária a rebelião da classe operária internacional contra a dominação imperialista".

LUXEMBURGO, Rosa. Acumulação do capital. p. 392 e 411.

 

“O comercio é antinatural... é um modo pelo qual os homens aferem lucros de outros homens. A mais detestada espécie de negócios é... a usura, que faz o dinheiro dar lucro por si mesmo e não por sua função natural. Pois o dinheiro foi destinado a servir para comprar e vender e não produzir juros. Esta usura (tokos), que significa o dinheiro a gerar dinheiro... é, de todos os modos de obter ganhos, o mais antinatural”.

Aristóteles. Politica, I, 10, citado por DURANT, Will. História da Filosofia: vida e idéia dos grandes filósofos. São Paulo: Editora Nacional, 1956, p. 96.

 

“Quanto maiores a riqueza social, o capital em funcionamento, o volume e a energia de seu crescimento, portanto também a grandeza absoluta do proletariado e a força produtiva de seu trabalho, tanto maior o exército industrial de reserva. A força de trabalho disponível é desenvolvida pelas mesas causas que a força expansiva do capital. A grandeza proporcional do exército industrial de reserva  cresce, portanto, com as potências da riqueza. Mas quanto maior esse exército de reserva, em relação ao exército ativo de trabalhadores, tanto mais maciça a superpopulação consolidada, cuja miséria está em razão inversa do suplício de seu trabalho. Quanto maior, finalmente, a camada lazarenta da classe trabalhadora e o exército industrial de reserva, tanto maior o pauperismo oficial. Essa é a lei absoluta geral da acumulação capitalista. (...) Compreende-se a insanidade da sabedoria econômica, que prega aos trabalhadores que ajustem o seu número às necessidades de valorização do capital. O mecanismo da produção e acumulação capitalista ajusta constantemente esse número e essas necessidades de valorização. A primeira palavra desse ajustamento é a criação de uma superpopulação relativa, ou exército industrial de reserva; a última palavra, a miséria de camadas sempre crescente do exército ativo de trabalhadores e o peso morto do pauperismo. (...) A acumulação de riqueza num polo é, portanto, ao mesmo tempo, acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e degradação moral no polo oposto, isto é, do lado da classe que produz seu próprio produto como capital.”

 

Karl Marx. O capital: crítica da economia política. Vol. 1, tomo 2. São Paulo: Nova Cultural, 1985, pp. 209-2010.

 

“Hoje em dia, muitos países, certas regiões dentro de países, e até áreas continentais inteiras (na África, na Ásia e mesmo na América Latina) não são mais alcançadas pelo movimento de mundialização do capital, a não ser sob a forma contraditória de sua própria marginalização. Esta deve ser estritamente compreendida como mecanismo complementar e análogo ao da ‘exclusão’ da esfera de atividade produtiva, que atinge, dentro de cada país, uma parte da população, tanto nos países industrializados como nos países em desenvolvimento. (...) Esses processos, no entanto, acentuam os fatores de hierarquização entre os países, ao mesmo tempo em que redesenham sua configuração. O abismo que separa os países participantes, mesmo que marginalmente, da dominação econômica e política do capital monetário rentista, daqueles que sofrem essa dominação, alargou-se ainda mais.”

 

François Chesnais. A mundialização do capital, p. 18

 

“A globalização não é senão a expressão ideológica da internacionalização sem precedentes das forças produtivas, e de sua completa inadequação à sobrevivência dos Estados nacionais, insuperável para o capital e suas supostas ‘instituições internacionais’”.

 

Osvaldo Coggiola. Globalização e socialismo. São Paulo: Xamã, 1997, p. 138

 

“A necessidade de mercados sempre crescentes para seus produtos impele a burguesia a conquistar todo o globo terrestre. Ela precisa estabelecer-se, explorar e criar vínculos em todos os lugares. Pela exploração do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para grande pesar dos reacionários, ela retirou a base nacional da indústria. As indústrias nacionais tradicionais foram, e ainda são, a cada dia destruídas. São substituídas por novas indústrias, cuja introdução se tornou essencial para todas as nações civilizadas. Essas indústrias não utilizam mais matérias-primas locais, mas matérias-primas provenientes de regiões mais distantes, e seus produtos não se destinam apenas ao mercado nacional, mas também a todos os cantos da Terra. Ao invés das necessidades antigas, satisfeitas por produtos do próprio país, temos novas demandas supridas por produtos dos países mais distantes, de climas os mais diversos. No lugar da tradicional interdependência geral entre os países. E isso tanto na produção material quanto na intelectual. Os produtos intelectuais das nações passam a ser de domínio geral. A estreiteza e o isolamento nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis, e das muitas literaturas nacionais e locais nasce uma literatura mundial”.

 

Karl Marx & Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. Rio de Janeiro: Contraponto, 1998, pp. 11-12.

 

“As forças econômicas da globalização reduzem e até anulam a capacidade dos Estados Nacionais de se contraporem aos mercados em nome dos direitos sociais e do cidadão, criando o que se chamou de regimes globalitários, onde não se admite outra política econômica que não seja subordinada à razão competitiva e onde os mercados financeiros têm a direção das sociedades.”

 

Luís Estenssoro. Capitalismo, desigualdade e pobreza na América Latina. Tese de Doutorado, FFLCH-USP, 2003, p. 19.

 

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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.

RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.

 

 

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