“Antes”
Antes que desça a noite
imprimir na retina
os rostos amados,
o sol
as cores
o céu de outono
e os jardins da primavera.
Inundar de sons
de vozes
e de música eterna
os ouvidos
antes que os atinja
a maré do silêncio.
"Abismal"
Meus olhos estão olhando
de muito longe, de muito longe,
das infinitas distâncias
dos abismos interiores.
Meus olhos estão a olhar do extremo longínquo
para você que está diante de mim.
Se eu estendesse a mão, tocaria a sua face.
"Auto-análise"
Sob a intensa luz da cena
e na plateia em penumbra,
vivo e me observo a viver.
(De quem o amargo sorriso?
Quem sonha uma outra vivência?).
Quem soluçava em meu sonho,
tão perto que me acordou?
"Difícil"
Cavar na rocha o escuro
degrau de cada dia.
Sangrar, mas não ceder.
"Antes"
Antes que desça a noite
imprimir na retina
os rostos amados,
o sol
as cores
o céu de outono
os jardins da primavera.
Inundar de sons
de vozes
e de música eterna
os ouvidos
antes que os atinja
a maré de silêncio.
Conquistar os pontos culminantes da vida,
antes que se esgote
o prazo de permanência
em seu território sagrado.
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7 |
“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.