Eu me interno na cidade do mistério
com gosto de eternidade.
Nela quero ocultar o passado ainda ignorando
a pálpebra do tempo que transporta os olhos
abertos da terra.
Assim saúdo com as mãos e as lágrimas aos que estão
partindo em seu eterno retorno.
Vejo seus rostos nas flores ou no voo do vento
ou nas sementes de uma ideia que reúne aos homens
ou nas bebidas que nos trazem a última paixão
ou no temor que às vezes enfraquece por não encontrar
outra saída
enquanto arrasto a dor e a alegria à maneira de um
largo rosário de folhas secas
e toco meu corpo como se tocasse a eternidade.
Eu me sinto a escrever e quero alcançar o esquecimento.
Acaso é o esquecimento a morte que passa?
Por que sempre a vida se nutre de abismo e eternas perguntas?
E se fosse verdade que estou vivendo?
“Apenas um cuidador de palavras”, 1995.
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“A história me precede e se antecipa à minha reflexão. Pertenço à história antes de pertencer a mim mesmo”.
RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologias. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1977, p. 39.